Tapada da Tojeira [Investigação] 2020, 2019
SONS
Improvisação com rail de estrada – Arneiro
Conversa com pescador do Arneiro
Andorinhas – Ponte dos Lentiscais
Restaurante O Túlio, Arneiro
Descargas Celtejo
River Blues com serrote – Lagar abandonado, Arneiro
Rãs – Tapada da Tojeira
Rouxinol – Tapada da Tojeira
Tapada da Tojeira
Vila Velha de Ródão
21 Mai 2020—31 Mai 2020

 
 
Depois de uma pausa forçada causada pela epidemia COVID19, e à semelhança da sociedade e do mundo em geral, o projecto Guarda Rios teve que se adaptar e reconfigurar o planeamento feito para o ano de 2020.

De forma relativamente improvisada organizamos em conjunto com a Tapada da Tojeira mais uma reunião dos membros do colectivo e alguns convidados, para replanear a continuidade do projecto e continuar com a nossa actividade de investigação e producção.

No decorrer desta residência, os rios da região, como pudemos constatar na ponte dos lentiscais sobre o rio Ponsul e na barragem de Cedillo, estavam cobertos de azolla. Este feto aquático é um problema ambiental em vários rios de Portugal, levando a uma diminuição drástica do oxigénio disponível nas massas de água aumentando e acelerando processos de eutrofização.

Mais optimista foi o cenário que encontrámos no rio Sever, num troço fora da influência da albufeira da barragem de Cedillo, onde o rio corria livre e onde tomamos o primeiro banho do ano. Aqui fizemos um piquenique na companhia da Patrícia Gomes e do Steve Sprung. A Patrícia é a realizadora do webdoc Rodom e portanto uma grande conhecedora da região. Foi também através da Patrícia que tomámos conhecimento dos desenhos e poemas de Alexandre Fonseca, antigo Guarda Rios da aldeia de Perais, desenhos os quais viriamos mais tarde a trabalhar e publicar nos primeiros cadernos Guarda Rios, um conjunto de publicações que visam divulgar e retrabalhar temas e conteúdos que vamos encontrando ao longo do nosso percurso.

Voluntariamo-nos também a participar numa das últimas actividades do Posto Aquícola do Campelo, antigo viveiro de trutas que desde 2008 serviu como viveiro de reprodução de espécies autóctones dos rios portugueses gerido pela QUERCUS, o Aquário Vasco da Gama, o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e a Faculdade de Medicina Veterinária, em parceria com a Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos. Pouco depois da nossa passagem, o posto aquícola entraria em obras para a sua reconversão num posto de criação experimental de trutas assilvestradas voltando assim este espaço a uma função próxima da sua génese.

Tivemos ainda tempo para diversas caminhadas como por exemplo às Portas do Almourão e ao Pego das Portas, locais onde no final das glaciações a água conseguiu vencer e atravessar as cristas quartzíticas da região. Nas portas do Almourão localizámos o local proposto para a barragem do Alvito, a qual tem sido alvo de discussão e polémica política desde há vários anos. No Pego das Portas falámos com pescadores do Tejo e percebemos o declínio acentuado que esta actividade teve nos últimos anos, depois dos constantes casos de poluição do Tejo, e de como isto afectou a população próxima do Monte do Arneiro, histórica e intimamente ligada à pesca no tejo. Nesta povoação, até aos anos 60/70, mais de duzentas pessoas dependiam directamente da pesca. Actualmente descobrimos três pescadores no activo e muito deles reconduziram a sua actividade para a apanha do lagostim do rio destinado a exportação para a indústria de conservas em Espanha.

Para terminar, organizamos um almoço no Monte do Arneiro com todos os participantes desta residência, onde tivemos a possilidade de provar as famosas sopas de peixe e várias espécies de peixes presentes agora no rio: o siluro, a carpa, o lúcio perca e o barbo. Destas quatro espécies, apenas o barbo é considerada endémica dos rios portugueses.